Foto antiga da minha filha Aisha brincando de amarelinha no Carnaval do Sesc da Vila Mariana. Batíamos cartão... Memórias de uma Mãe sem Fronteiras, que se inspira nesse amor que não cabe em fronteiras...

Duas medicinas, um coração: carta de uma artista para a filha que é pura arte

Aisha, seu nome não significa ‘Viva’ à toa. E você não arrancou a tesoura da mão do Doutor João por acaso.

Escrevo esta carta de Beirute enquanto você segue seu caminho na medicina, lá longe. E percebo que, cada uma à sua maneira, está aprendendo a praticar a mesma arte: a arte de curar.

Medicinas paralelas

Minha clínica é o ateliê. Meus pacientes são memórias, ausências, saudades que precisam de forma e cor para não desaparecer.

Minha receita? Pincéis que traduzem o amor em imagens, tintas que transformam a solidão em ponte entre nós.

Você estuda para aprender a lutar pela vida, arrancando pessoas das mãos da morte. Eu vou aprendendo a lutar pela vida nos pincéis, arrancando beleza do caos, esperança da destruição.

Sua medicina cura corpos. A minha cura almas.

E no fundo, somos ambas parte do mesmo combate: contra a morte, contra o esquecimento, contra o apagar das luzes.

Aprender a voar quando falta o chão

Cada Pássaro de Beirute que pinto é um pedaço meu aprendendo a voar – assim como você voou para seguir seu sonho.

Essa série nasceu após a explosão de 2020, quando percebi que nós, libaneses (e eu, brasileira que escolheu este chão), precisamos aprender a voar mesmo quando nos falta terra firme sob os pés.

Cada Godiva que crio carrega outra medicina: o lembrete de que nossa força sempre esteve acima dos ombros, na cabeça erguida, no olhar que enfrenta.

Mulheres que mostram o rosto, não apenas o corpo. Mulheres de cores vibrantes que recusam ser apenas objeto. Mulheres que existem além do que o mundo espera delas.

Como você, Aisha.

A beleza na imperfeição

Herdei de meus avós japoneses o conceito de wabi-sabi: a beleza está na imperfeição, na transitoriedade, no incompleto.

Minhas obras carregam isso. Não são perfeitas. São vivas. Respiram. Sangram. Voam.

Assim como nós.

Um recado final

Continue arrancando tesouras das mãos do destino, minha Vida.

Enquanto isso, eu pinto nossos ninhos vazios com as cores da esperança – e do orgulho de ver você voar.

Com amor e tinta fresca,
Mama

Obras mencionadas nesta carta:

🐯 Fairouz Avatar

A diva libanesa que virou oráculo da resistência. Em seus olhos, o peso de mil histórias. Em suas orelhas de tigre, a herança selvagem de quem não se curva.

🌊 Pássaro Mediterrâneo

O voo que carrega o mar dentro de si. Azuis do Mediterrâneo dançando no caos, numa coreografia de resiliência e beleza imperfeita.

[imagem + link para compra]


Explore mais da série:
Pássaros de Beirute: a arte de voar sem chãoLoja
Godivas: mulheres que mostram a caraLoja

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *